quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

vida (s)

Hoje foi efectuada a punção ovocitária e recolhidos 16 sementes de esperança. Como todos os casais que tropeçam na fertilidade, posso afiançar que poucos desafios provocam maior desgaste, maior astenia e prostração do que um ciclo de FIV entre dois seres que se amam. Para a geração dos trintas -que muita vezes conquistaram a ferro e fogo as primeiras Licenciaturas, Mestrados e MBA´s da familia, que ascenderam por mérito a cargos de gestão em poucos anos, que possuem no seu percurso habitações, carros e viagens de luxo- é avassaladoramente difícil aceitar que não controlamos o desenrolar da nossa vida, da nossa família. Por mais que ofereçamos o nosso sacríficio físico, psicológico, anímico, financeiro, profissional...não conseguimos alterar o nosso cariótipo genético, ou as traições do nosso desenvolvimento quando ainda estávamos no ventre....e a culpa...a culpa...esse sentimento que nem sempre é meritório ou tão reconhecidamente católico....apenas aquele sentimento que nos amarfanha, nos inibe...que nos cega. Não conseguimos minimizar o sentimento de culpa das nossas mães, que é nenhuma, que se responsabilizam pela gestação, que sofrem tanto quanto nós.
Li algures que apenas o desespero é mais forte que a esperança, e questiono-me muitas vezes se já deveria sentir-me grata pelas bençãos que tenho recebido, um marido fantástico que é o meu melhor amigo, uma carreira bem sucedida, uma familia amorosa e sobrinhos ma-ra-vi-lho-sos...

1 comentário:

Rakel disse...

Minha querida amiga,

repetindo o que te tenho dito, agora é hora de respirar fundo. E a seguir mergulhar. Sem culpas e sem fazer balanços.

Bjs