quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Nove anos sem ti...

Justificar completamente( www.olhares.com)

....Há nove anos em Julho fui ...tia.
Acompanhei o desenvolvimento do parto à distância e quando o meu cunhado me confirmou que uma Ritinha viria encher o meu mundo de cor de rosa, cheiro na pele de chuva fresca , risadas deliciosas e cabelo da cor do sol...chorei...copiosamente...perante os olhares incrédulos dos clientes...foi a segunda vez na vida que chorei de felicidade...por me sentir...abençoada.
Este espírito de enlevo não duraria outros 5 meses...sendo a tua vida...pai...arrancada a todos com requintes de malvadez. Estavas absolutamente apaixonado por aquela pequen a promessa de vida que esbanja beleza desde o dia em que nasceu ...apenas pudeste assistir ao seu baptismo.
No dia em morreste pai...o sol nasceu forte e limpo para te acolher. Dentro de mim só ficou escuridão e dor...muita dor. Os dias, meses seguintes foram excruciantes tentando não perder o som da tua voz, o teu cheiro e o teu olhar penetrante. Tinhas 55 anos...
Hoje na missa do 9º aniversário a tua neta rezou pela tua alma e sabe a quem os seus olhos devem o negro penetrante, bem como o teu neto P. que não chegaste a conhecer, sabe que as mãos esguias e finas e o modo como segura o queixo para pensar ...são tuas.
Eu ...pai...sinto-me orfã como no primeiro dia...porque não te tive no meu casamento...porque não posso telefonar para contar as agruras do meu dia a dia...porque não posso dar-te a alegria dos meus pequenos sucessos profissionais...porque não consigo gritar no teu peito que não consigo ter um filho e que morro de medo de nunca o vir a ter...porque nos roubaram os Natais...porque nos roubaram o amor.
Pai...eu sei que a tua capacidade de sofrimento e resiliência ultrapassou todos os limites médicos e que a tua alma estará finalmente em paz...prefiro acreditar que foram 26 anos de ti ...os primeiros...os determinantes. Prometo continuar a passar o teu legado de rectidão , verticalidade e assertividade...para que continues a viver em todos nós...como se pequenas borboletas se desprendessem de ti e voassem ao nosso encontro pela vida fora...
Ps-(Continuo a amar-te pai e hoje... nove anos depois consegui finalmente falar sobre ti...)